18 March 2008

Da Carne Mística

Boris se despede dos companheiros da praça, vai para o almoço na casa do prefeito e caminha em direção ao homem que segura um saco nas costas e que caminha sem direção. O homem sussurra, resmunga baixo. Boris pega umas moedas e joga próximo ao homem na sua frente.
-Deixou cair essas moedas. – disse Boris.
-Não são minhas, são suas. Um homem como eu não carece de medalhas.
-Não são medalhas, são moedas...
-São pratas refinadas. – disse o homem continuando seu trajeto, ignorando as moedas.
-Você não as guardará?
-Não, disso não. Tenho que conquistar dessas medalhas sozinho. Não quero dado.
-O senhor é daqui? Mora por aqui? – perguntou Boris agachando para buscar as moedas que ficaram no chão.
-Os ímpios circulam por toda parte.
No exato momento, Dona Filial, que está lavando seu quintal, chama por Boris.
-Gostei muito do sanfoneiro de ontem, Boris.
-Ah, sim. Arlindo Epuro. – disse Boris sendo simpático com Dona Filial e seguindo o homem que segue.
-Esse mesmo. Toca bonito e feliz. E meu marido também adorou. E lá no teatro teve uma idéia pra você...
-Diga pro Seu Dono que me encontro com ele pela cidade.
O homem vira a rua. Dona Filial ainda fala, mas suas palavras já estão longe agora. Boris aperta o passo, quase correndo, rapidamente para não perder o homem de vista. Boris alcança a esquina da rua, só que o homem está bem mais distante, incrivelmente virando para a direita no outro quarteirão, na rua do prefeito. Boris está incrédulo na velocidade em que o homem anda, pois não dá tempo para estar naquele final de rua, nem se corresse.

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