22 October 2007

Da Carne Mística

No caminho para a casa do prefeito, a cidade demonstra gosto pelo espetáculo da noite passada, pedindo para que Boris o fizesse mais vezes. Na praça da igreja, os senhores jogando pedras coloridas nas mesas chamaram por Boris.
-Cadê as cantoras de ontem? – disse o tio mais velho de Pururucana.
-Elas já se foram. – disse Boris.
-As moças cantavam mui bem. – disse o tio mais banguelo de Pururucana. – Gostei da homenagem a Líria de Chá.
-Devia chamar a Líria de Chá pra cantar aqui pra gente. – disse o tio mais velho de Pururucana.
Boris diz que a cantora virá nas próximas festas e ao mesmo tempo observa um homem de rua que passa por ali com um saco de lixo seguro por cima dos ombros.
-Agora cá aqui entre nós, hein, o Derivando Conta desafinou pra caramba. – percebeu o tio mais velho. – Ele assassinou a música do Ferido Cura.
“... lábios lisonjeiros e coração dobrado/ e a língua que fala/ os beiços são nossos...” cantarola Pururucana.
-Tem que falar pra ele cantar na missa do Padre Março, parece que está cantando um Salmo, riu o tio mostrando seus dois dentes inferiores.
-Quer ser o cantor-mor. – divertiu-se o tio mais velho.
-É do dois ao quatro. – sussurrou Seminite ao tio careca de Pururucana.
Boris escuta atento, mas desvia o olhar para aquele homem de rua, solitário no dia quente. Lembrou da mulher, na noite anterior, que o fez acreditar como tudo já havia dado certo até o certo momento incerto. Pururucana continua jogando as pedras coloridas.
-Doze, tio. Joga. –insistiu Pururucana para atrair os jogadores pro jogo. –É o Doze.
-É do dois ao quatro mesmo? – disse o tio careca que só assistia ao jogo para Seminite.
-Imagina, vai até o oito. –duvidou o tio mais velho. – Vermelha até o oito.
-Está certo, tio. É o Doze. Joga. – resolveu Pururucana.-É o Doze, Seminite, por isso vai até o oito. – disse o tio mais velho.

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