01 June 2007

In Coma

A menina se apresenta como Duna e caminha na frente saltitante pelo imenso jardim sem falar mais nada, canta uma canção sem nenhuma palavra, apenas ressonando a melodia lúdica. Ele a acompanha com passos apressados e observa a paisagem infinita de natureza simples jamais vista por seus olhos, a caminho dos arvoredos em grupos, a luminosidade do dia é brilhante mesmo sem o sol. Duna indica o caminho e ela passa pelo breve riacho de águas claras molhando os pés, Joel também o faz seguindo a garotinha. Mas ele não se lembra de estar descalço, e nem com terno branco. Não estava com terno branco! E nunca vestira um terno branco em toda sua vida! Tenta perguntar para Duna sobre o terno branco, mas ela já está entrando sob os ingás, guiando Joel. Ele a segue e escuta alguns pássaros cantando a melodia de Duna, as aves de diversas espécies estão distribuídas pelos galhos. Chegam num campo de grama rala, dentro dos arvoredos, repleto de margaridas e rosas, com uma porção de gente, vestidas de branco. Duna pára próxima a um homem que está vestido de terno branco, mas que tem uma faixa larga e amarela no braço esquerdo, costurado em cima do blazer, que se aproxima sorrindo. Duna segura a mão de Joel, dá um beijo em sua mão e volta saltitante pelo caminho que vieram, enquanto o homem chega lhe dando boas vindas e estendendo-lhe a mão. Joel está paralisado analisando o jardim florido, espalhado na grama bem cortada, com pessoas de brancos conversando.
-Prazer, eu sou Abrão e você está no lugar aonde todos querem chegar.
-Desculpa, mas estou um pouco perdido...
-Não se preocupe, aqui todos estão próximos de Deus. Estão todos muito próximos de Deus, estão todos protegidos, estão todos salvos, estão todos próximos de Deus, o mais perto, o mais junto Dele.
-Eu morri? – pergunta assustado Joel.
-Claro que não! Você só está recomeçando de novo o que sempre fez. E outra vez.
-Aqui é o Céu?
-Não! Outro lugar mais próximo de Deus.
Joel repara que todas as pessoas estão vestidas de terno branco, mas que alguns estão com faixas largas amarelas no braço esquerdo, como Abrão.
-Somos os Encaminhadores do Senhor! Iniciamos a explicação para os desavisados que acabam de chegar por aqui; colocamos as dúvidas em dia. Somos responsáveis pela ordem.
Joel observa durante a explicação que outras pessoas vestidas de branco possuem faixas de outras cores no braço esquerdo, a exemplo de uma que carrega o verde de espessura menor no terno branco.
-Encaminham para onde? Para Deus?
-Não, encaminhamos a passagem.
-Passagem? – pergunta Joel observando uma criança sendo acariciada por uma roda de homens e mulheres vestidos de branco (apenas uma mulher de óculos vermelhos grandes) – que passagem é essa?
Abrão encosta sua mão no ombro de Joel. – Você é do planeta Terra!– adivinha segurando as costas de Joel e encaminhando-o para perto do povo vestido de branco. Joel o acompanha achando aquilo muito estranho.
– Não se preocupe, a passagem é necessária para todos que buscam a Deus. As pessoas do planeta Terra ainda não dispõem do conhecimento. Não entendem ainda o significado da vida. Não conhecem nada a respeito da existência e da razão, não aprendem sobre o ciclo vital e nem sobre o equilíbrio natural. Não querem conhecer nem mesmo seu próprio universo; nem seu próprio organismo; nem seu próprio pensamento e nem seu raciocínio e razão. Não buscam o infinito, pois carecem apenas do presente, da sobrevivência, não largam a mentira por um momento de paz. Não se alimentam direito...
-Joel! – alguém o chama.

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