13 June 2011

Da Carne Mística

Boris acredita que conseguirá uma boa ideia para o próximo evento, que promete ser maior (do que esse seu primeiro de música), na cidade pequena. Enquanto o céu escurece na sua janela do onibus, observa o horizonte com a esperança de voltar da Cidade Grande com a missão cumprida. Duharte dorme na poltrona ao lado com boca aberta e corpo relaxado, enquanto a claridade do dia fica atrás de edifícios gigantes no horizonte.
O sonho de Boris é ser reconhecido e respeitado como o principal chamativo turístico, e aparecer numa entrevista, ou se der numa reportagem na televisão. Através do vidro do ônibus, ele planeja ser o grande criador e organizador dos eventos da cidade pequena (e quem sabe da região ‘eco-rural da terra’); ser condecorado e homenageado em vida, pelo prefeito Fim, ainda; e morrer sabendo que terá um busto seu, metálico, numa praça recém inaugurada, que servirá de palco para os maiores cantores e artistas da televisão do futuro e no futuro e etc e tal – que assim seja – crê.
Boris percebe que as senhoras passageiras da romaria da Santidade Obstante se preparam para mais uma oração. Ele se acomoda no banco, vira a cabeça para o lado da janela e fecha os olhos. Prefere sonhar em sua própria crença, consigo e por si. Crer que povo saberá que a estrutura será a ‘melhor que puder’. E ele vai fazer o que puder para que o povo da cidade pequena lhe reconheça.

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