29 April 2011

Da Carne Mística

Acobertados na tenda improvisada por Seu Junto, Seu Dono assiste sentado ao pôr do sol além da última montanha do horizonte. Dona Filial prepara as ervas para o chá rotineiro que Seu Dono gosta de beber com torradas. Juvenil enrola uns arames com alicate enquanto Seu Junto calcula a trajetória da próxima luz.
-Poderá cortar por este lado. Acho que cairá naquele ponto – aponta Seu Junto.
-Não creio que esta luz virá hoje – argumenta Juvenil.
-Você não sabe, Juvenil, não sabe sobre nada das escritas proféticas – diz Seu Dono calmamente com olhar fixo no horizonte -, está dentro de um seguimento que há décadas existe e aguarda.
-Cheguei na hora, não é? – crê ser Juvenil.
Dona Filial serve a caneca quente a Seu Dono e diz:
-Pois é Juvenil, teve sorte! Esperamos por esta glória! Quase desisti de morar na cidade pequena por pensar que perderia muito tempo aqui sem ver a transformação. Não é, querido?
Seu Dono assopra a caneca e balança a cabeça concordando com a réplica de sua esposa que indiretamente é dele. Seu Junto, com lápis, prancheta e livros, muda o circuito da luz de direção. Juvenil corta um pedaço médio de arame e entrega a Seu Junto que o finca na terra fofa junto com mais outros cinco alinhados.
-Ao menos estou aqui – seca Juvenil – imagine se eu estivesse atravessando o céu nesta hora.
-Pois agradeça – diz Dona Filial com sua caneca sentando-se ao lado do marido –, poucos sobreviverão com a realidade. Se quiserem chá... está aqui.
-Logo mais esquentarei o corpo. Quero ter a certeza... pra onde deveremos olhar – completa Seu Junto fitando o crepúsculo.

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