27 October 2010

Da Carne Mística

Os dois sujeitos se olham e sorriem dentro do carro e Pururucana trata de deixá-los à vontade. Entram na cidade e Pururucana conversa, mostra sua casa, aponta para a praça e o sujeito no banco de trás dá uma direção que o carro de Pururucana não está. O motorista faz a volta e não esconde a curiosidade.
-Vão atravessar a cidade, então?
O sujeito da frente olha rápido para o detrás.
- São uns amigos – diz o sujeito atrás.
-Sim, já me disseram que a cidade está cheia de gente nova.
-Não estamos aqui, apenas passamos – diz o sujeito de trás.
O sujeito da frente olha mais uma vez para o detrás e se volta para Pururucana.
-Sabe, moço – diz o sujeito no banco da frente - nós não somos os coitados que parecemos. Viemos de longe e sabemos muito. Temos que aguardar o restante dos brilhos.
Pururucana concorda com a cabeça enquanto segue a saída da cidade para onde a estrada de terra tem fim. O sujeito da frente continua:
-O futuro nasceu aqui e é por isso que estamos aqui. Acreditamos nessa transformação que virá com a luz e trará a salvação. É a nossa ida para um mundo melhor.
-E nós entraremos nela – diz o sujeito atrás.
-Pode nos deixar aqui.
Pururucana quer saber aonde realmente vão, mas os dois falam ao mesmo tempo para que a carona cesse.
-Não queria nos tirar da cidade? Já atravessamos com sua ajuda. Pode nos deixar aqui – diz o mais velho que está na frente.
-Diga-me onde estão. Eu os levo.
-Por enquanto é só. Obrigado. À luz.
Pururrucana faz a volta, olha no retrovisor, mas os homens estão parados esperando que o campo de visualização do motorista se desfaça.

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