Da Carne Mística
A cápsula voadora é veloz e suas curvas, milimetricamente
rente aos prédios, são tão rápidas que nem mexem os corpos. Outras cápsulas
estão na frente e atrás, numa precisão direcionada. O fluxo perfeito está na
altura e na velocidade em que essas maquininhas seguem juntas. Boris tenta
enxergar a frente do caminho enquanto as luzes ficam na retina em horizontais.
A rodoviária ficou abaixo, a cápsula sobe em espiral entre a Cidade Grande, as
luzes se aproximam e passam pelas laterais. Duharte tenta seguir as luzes e sua
mente cerebral faz com que seu crânio se movimente como num campeonato de
ping-pong chinês.
Boris se abaixa
quando um carro quadrado passa em cima da cápsula, a menos de dois metros de
distância, na direção contrária.
-Boris! – grita Duharte – Olha lá, viu? Viu o que eu vi?
- A estátua se mexer?
-É.
-Estátua grande demais pra se mover – diz Boris.
-Chegamos! Hotel Flora! Vocês ficam aqui – quebra Genial.
A cápsula adentra na marquise do Hotel, posicionado a
setecentos metros acima da rodoviária. Duharte sai da cápsula e bisbilhota
contra a própria vertigem. A cápsula pára, abre a porta, um mensageiro os
recebe e o cidadão ajuda a descarregar as mochilas.
-Bom Senhores, Sou Genial! Se quiserem conhecer mais da
Cidade Grande, aqui está meu cartão, se quiser passo amanhã ao sol da ponta
oeste.
Boris aperta a mão do cidadão e sem palavras concorda com a
cabeça. Genial acena, entra na cápsula e desaparece com ela. Os dois turistas
seguem o mensageiro e adentram o hotel. Duharte ainda numa partida de ping-pong
observa todos os detalhes da Cidade Grande enquanto Boris, mudo, sente o coração
passear pelo seu corpo.
*
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