26 November 2012

Da Carne Mística



A cápsula voadora é veloz e suas curvas, milimetricamente rente aos prédios, são tão rápidas que nem mexem os corpos. Outras cápsulas estão na frente e atrás, numa precisão direcionada. O fluxo perfeito está na altura e na velocidade em que essas maquininhas seguem juntas. Boris tenta enxergar a frente do caminho enquanto as luzes ficam na retina em horizontais. A rodoviária ficou abaixo, a cápsula sobe em espiral entre a Cidade Grande, as luzes se aproximam e passam pelas laterais. Duharte tenta seguir as luzes e sua mente cerebral faz com que seu crânio se movimente como num campeonato de ping-pong chinês.
 Boris se abaixa quando um carro quadrado passa em cima da cápsula, a menos de dois metros de distância, na direção contrária.
-Boris! – grita Duharte – Olha lá, viu? Viu o que eu vi?
- A estátua se mexer?
-É.
-Estátua grande demais pra se mover – diz Boris.
-Chegamos! Hotel Flora! Vocês ficam aqui – quebra Genial.
A cápsula adentra na marquise do Hotel, posicionado a setecentos metros acima da rodoviária. Duharte sai da cápsula e bisbilhota contra a própria vertigem. A cápsula pára, abre a porta, um mensageiro os recebe e o cidadão ajuda a descarregar as mochilas.
-Bom Senhores, Sou Genial! Se quiserem conhecer mais da Cidade Grande, aqui está meu cartão, se quiser passo amanhã ao sol da ponta oeste.
Boris aperta a mão do cidadão e sem palavras concorda com a cabeça. Genial acena, entra na cápsula e desaparece com ela. Os dois turistas seguem o mensageiro e adentram o hotel. Duharte ainda numa partida de ping-pong observa todos os detalhes da Cidade Grande enquanto Boris, mudo, sente o coração passear pelo seu corpo. 

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