19 September 2006

Um ontem pra Buda

Quando Buda pressentiu ceder à vida, em Kushinagara, ouviu-se a voz sussurrando em seu ouvido. Um chamado além de seus pensamentos. O silêncio que cabia dentro de sua mente. Na sombra da árvore ele meditava e seus discípulos também estavam calados com os olhos fechados. A voz calhou em conduzir-lhe uma chance. Dar-lhe-ia novas esperanças de um Senhor. Entregou-lhe a voz o precioso aviso, da premiação nunca dada a um mortal: O Fim.
Soube da morte. Ganhou a causa noticiada e ficou ausente entre os demais, sentado á sombra e longe do mundo. Recolheu dos restos a vitamina da sobrevivência. A comida doada. Virou um de tantos. Apenas um como queria, como lhe serviu a mendigagem. Adaptaram-se ao seu modo, longe da matéria e do sofrimento, perto da luz, no caminho do meio.
Disseram-lhe as vozes do seu eu:
“Predestinado homem, vidas que atravessam as leis do Poder Maior sem questionário. Porquanto tempo lutaste em silêncio?”
“Dedico-me ao seu presente o mais caro da criação: O poder da volta”.
“Sim, Sidarta, a chance para o perdão, para o momento do seu arrependimento”.
“Um dia que viveu pra repetir em seu último dia”.
Buda já pensou sobre o assunto. Em oitenta anos pensou em muita coisa. Sabedoria em muitas vigílias. Pensar na vida inteira, perdoando a si mesmo por tantos uivos de lobo. Castigando e curando a si mesmo com meditação e tempo. Voltar no dia em que deu a surra no cavaleiro do castelo, na aula de habilidades militares, por saber que o pobre homem recebeu ordens para perder a batalha; talvez voltasse quando largou Yashodhara chorando no palácio sem lamentar a despedida; Talvez no momento mais nobre em que o macaco e o elefante o salvaram da solidão e o do desamparo ‘o momento mais sagrado de minha vida’. Mas com a luz do karma distribuída aos discípulos e monges da ordem monástica que lhe rodeavam Buda sorriu.
“Pode ser hoje mesmo”.

Parinirvana:
PUFF!

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