07 November 2006

Da Carne Mística

Boris encontra as cantoras na cochia do evento, atrás do cenário e encaminha-nas para o camarim dos artistas. Carta e Sol, moças bonitas, cantoras de música regional, estavam no início de carreira.
-Derivando Conta vai passar o som e depois podem ser vocês, se quiserem. – disse Boris.
-Queremos! – disse Carta. – Viu, Boris, nós estamos um pouco com fome e sede por causa da viagem...
-É pra já. – desculpou-se já dando ordens para um ajudante trazer salgados, sucos e água.
Boris recebe a notícia que um dos grupos não poderá chegar a tempo.
-Culpa do tempo. – disse um ajudante do evento. – Parece que o temporal que vem será feio e bravo. Daqueles que até cessa energia.
A notícia deixa Boris agoniado e angustiado. Os artistas não chegam e falta pouco mais de uma hora pra começar. A cidade pequena é acostumada a ir às festas mesmo com chuva, mas temporal de ventania faz o povo ficar em casa, o que pode atrapalhar todo o festival. Boris quer realizar o que sonhou concretizar em sua vida de promotor de festa.
Seu Junto chegou bem perto de Boris e avisou que o prefeito estava no trimm do teatro querendo dizer algo. Antes de sair correndo para atender o chamado deixa de aviso um ajudante para recepcionar os artistas e colocá-los no camarim. Atravessando o corredor entre as cadeiras do teatro com a pressa de um alce fugindo do leão, ele alcança a sala.
-Pronto. - avisa Boris ao trimm.
-Viu o temporal que vem por aí?
-Vi Prefeito Fim. De natureza o Senhor entende bem, não é? Como está a notícia aí na televisão?
-Pois é já mandei ligar o gerador da prefeitura caso falte luz aí.
-Muito obrigado. - agradece a preocupação do prefeito enquanto Seu Junto fica sinalizando alguma coisa pra ele.
-Como está por aí? O Pomada Sítio já chegou? As cantoras...
-Pomada ainda não. Mas Derivando Conta e as cantoras Carta e Sol já estão aqui. – responde com a atenção em Seu Junto, que lhe faz um gesto estranho, fazendo garras de águia com a mão direita, mexendo os dedos, e com a esquerda aberta com a palma virada pra cima.
-Vou passar por aí em poucos minutos. – termina o prefeito.
Boris desliga o trimm e rapidamente se vira para o zelador procurando entender melhor o que acontece.
-Começou a chover! – diz com tranqüilidade – e tem gente aí fora com ingresso na mão querendo entrar.
-Não deixa não. Os artistas estão passando o som...
-Mas ta chovendo. Se o senhor visse o pessoal que está aí fora...
-Quem está aí fora? – indignado Boris.
-Não é ninguém importante, mas tem cinco e é família que tem criança. – tentando convencer – Sem teto ainda na frente...
Boris autoriza a entrada do público e corre para o palco novamente enquanto Derivando Conta está passando o som. Atrás do palco verifica o camarim e percebe que o sanfoneiro Arlindo Epuro e o cantor Di Sedê já chegaram e já estão confortáveis no camarim. Ainda mais com as cantoras que dão um toque embelezador no espaço.
Não houve venda antecipada dos ingressos e faltam artistas pra chegar, o seu primeiro festival vai por água abaixo.

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home